Em entrevista a revista Veja, o arcebispo de Belo Horizonte, Walmor Oliveira de Azevedo, que se tornou o 13º presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), falou sobre vários assuntos.
Entre os temas abordados, ele fez observações sobre política, crescimento dos evangélicos, armamento e seu futuro encontro com o presidente Jair Bolsonaro.
Eleito por cerca de 70% dos 296 bispos de todo país, Walmor deixou para trás o forte candidato ao cargo, o cardeal Odilo Scherer, arcebispo de São Paulo.
Com doutorado em Teologia Bíblica, dom Walmor também integra duas congregações de peso no Vaticano – para as Igrejas Orientais e a da Doutrina da Fé. A eleição do arcebispo representa uma Igreja mais preocupada com a volta às raízes da fé do que com posições políticas, papel que calcou a história da CNBB.
Apesar de ser apontado como um bispo de centro-esquerda, o presidente a CNBB afirmou ainda que não tem um posicionamento definido quanto à política.
“Não sou de direita ou de esquerda nem de centro. Tampouco progressista ou conservador. A Igreja não pode se pautar em ideologias. Me autodefino como aquele que quer voltar às fontes do Evangelho. É dessa postura que vem o equilíbrio de que tanto precisamos nesses tempos de polarização. A polarização separa e isola.”
Para Walmor, a CNBB não deve focar em influências políticas, antes precisa se reaproximar do evangelho.
“A CNBB tem de se reaproximar do Evangelho. Voltar ao Evangelho é revestir-se de uma sabedoria que não vem de si mesmo, mas da sabedoria de Deus. Dessa forma passamos a compreender a vida de forma diferente: amando os inimigos, indo ao encontro daqueles que sofrem, sendo solidários, perdoando. Essa deve ser a essência da CNBB – não ser do partido A ou B. A CNBB não é um clube de amigos e tampouco uma ONG ou um partido. É a congregação de todos os bispos do Brasil com a força da Igreja. A força política da CNBB e da Igreja é ajudar a construir uma sociedade justa e fraterna. “
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Perguntado se o católico deve se afastar da política, ele disse: ” Isso é outra coisa. Os fiéis precisam se envolver mais com a política. Mas sempre pautados pela moralidade inegociável e a serviço do outro. “
Armamento
O arcebispo foi questionado sobre a quantidade de católicos que prestou apoio ao novo governo e a relação com a liberação do porte de armas.
“A arma, não só para o católico, mas para todos os cristãos, deve ser o amor. O cristão tem de pegar naquilo que promove a vida. O nosso caminho é o da paz, da construção de uma sociedade pacífica. Mas os católicos são livres para fazer escolhas. Precisamos olhar o contexto complexo da sociedade brasileira. O contexto atual mostrou nossas dificuldades políticas. Uma escolha feita, há um desafio enorme para dar um passo à frente.”
Bolsonaro
Sobre a expectativa para o encontro com Jair Bolsonaro, uma praxe de cada presidente eleito para a CNBB, Walmor disse que quer ouvi-lo e compartilhar a força do Evangelho.
“Vamos nos encontrar muito em breve. Quero ouvi-lo e poder compartilhar com ele a força do Evangelho. Não darei recados. O que desejo de coração aberto é me oferecer para o diálogo. Isso é importante para todos os lados, mesmo que haja diferenças entre eles. Ninguém é dono da verdade. A verdade é Jesus Cristo. O exercício da Presidência, de um cargo público, independentemente da escolha religiosa, tem que ser baseado sempre na abertura ao diálogo e na moralidade. O objetivo tem que ser o bem do povo brasileiro. “
Questionado se Bolsonaro, em sua opinião, é o presidente é um bom representante da moralidade, disse: “Nenhum de nós representa a moralidade. A sociedade brasileira, incluindo os cristãos, tem mostrado vergonhosamente que, sob o ponto de vista moral, tem um longo e urgente caminho a percorrer. Todos nós temos de ser mais coerentes com a fé que professamos, o Deus ao qual nos referimos. Esse é o grande desafio. Somos todos pecadores. Temos que construir um caminho oferecendo o que temos de melhor. Ter opções diferentes e conflitos de escolhas faz parte de uma sociedade pluralista. Mas quando alguém diz que Deus está acima de tudo, está se comprometendo a colocar o amor, a justiça e a verdade acima de tudo. “
Crescimento dos evangélicos
O novo presidente da CNBB foi questionado se a Igreja Católica errou, uma vez que os institutos de pesquisa indicam que em 2032 o número de evangélicos irá superar o de católicos no país, por que o número de evangélicos tem crescido tanto e se a Igreja Católica se a fastou dos fiéis. Para ele, os grupos católicos também cresceram.
“Não diria que a Igreja errou. Ela tem sido profundamente desafiada a ter novas respostas na complexidade e na rapidez das mudanças culturais da sociedade. A Igreja não pode se preocupar com números. Os números mostram muita coisa, claro. Mas o mais importante está além deles.”, disse.
“As estatísticas mostram o crescimento de evangélicos, mas também de grupos católicos. Acredito mais no trânsito religioso do que no crescimento em uma só religião.”, continuou.
“Temos uma capilaridade, mantemos serviços sobretudo com os pobres e sofredores. Mas temos um desafio, como diz o papa Francisco, que é o de chegar às periferias espirituais e geográficas.”, concluiu.